Child of RAGE
A ira de um Anjo é um documentário perturbador que relata a história verídica de Beth Thomas, uma menina de 6 anos que, devido à negligência e abuso sexual e psicológico por parte do seu pai biológico quando era bebé, começou a revelar comportamentos psicopatas uns meses após a mesma e o seu irmão mais novo, Jonathan, terem sido adotados por uma família.
Ao longo do documentário, Beth conversa com o seu psicólogo, Ken Magid, e revela desejos cruéis de assassinar o seu irmão e a sua família adotiva, o que obrigou os seus pais adotivos a trancá-la no seu quarto durante a noite, devido ao receio das coisas que esta poderia fazer. Beth confessa até que passa os seus dias a torturar Jonathan com alfinetes, pontapés e murros, chegando ao ponto de o abusar sexualmente, tal como o que o seu pai biológico fazia com ela.
Beth, foi, então, diagnosticada com um transtorno de apego reativo (RAD), uma condição rara que se manifesta, geralmente, em crianças que, nos primeiros anos de vida, sofreram de negligência e/ou abuso físico ou emocional. Desta forma, Magid decidiu afastar Beth da sua família para viver com Connell Watkins, uma especialista em terapia. Tudo o que Beth fazia era controlado e tinha de pedir autorização nem que fosse para fazer uma coisa tão simples como beber água. Isto tinha, como objetivo, levar Beth à submissão para que seja possível reeducá-la.
Apesar das criticas contra este tipo de terapia, Watkins conseguiu convencer Tim e Julie e, de facto, por volta de um ano após o inicio do tratamento, foi possível notar melhorias. Beth começou a ser capaz de sentir emoções e empatia pelos outros, pelo que, quando ao fim de algum tempo. foi-lhe perguntado sobre o que fez no passado, começou a chorar devido à dor que sentia quando se lembrava das suas ações e da forma como magoou as pessoas mais próximas dela.
Embora os seus pais adotivos mostrassem afeto e carinho pelos seus filhos, Beth já era incapaz de dar e aceitar amor e sentir empatia pelos outros, devido ao facto de ter crescido num ambiente desprovido de amor e confiança e a tudo aquilo a que esteve sujeita durante os seus primeiros anos de vida.
Tudo o que Beth viu, sentiu e experienciou a influenciou diretamente, como consequência, a sua frieza e falta de emoção quando se falava sobre a sua família e aos seus animais. Esta não tinha noção nem consciência do que era bom e do que era mau, do que era correto e do que não era, uma vez que nunca tinha tido oportunidade de viver numa outra realidade sem ser a do abuso e violência.
As suas vítimas foram, geralmente, o seu irmão e os seus animais de estimação, uma vez que ela procurava sempre alguém que estivesse em desvantagem comparado com ela, o que também se verificava quando esta pretendia atacar os seus pais adotivos durante a noite.
No entanto, graças à educação rígida e ao apoio, Beth foi capaz de melhorar a sua autoestima, distinguir o bom do mau, sentir-se culpada quando fazia algo de errado, mostrar carinho e responder ao afeto, exatamente devido ao facto de ser elogiada sempre que faz alguma coisa certa.
Beth demonstrou, também, ser resiliente, ou seja, estava motivada e tinha, realmente, vontade de mudar para o melhor, sendo isso um dos aspetos mais importantes durante toda a terapia, visto que nada teria sido possível se esta não o desejasse mesmo. Porém, embora haja formas de ajudar, este tipo de comportamentos e o seu passado menos agradável deixou cicatrizes, estas que foram causadas pelo sofrimento, nunca a deixaram de acompanhar durante a sua vida, independentemente de estar ou não consciente disso.
Por fim, o documentário apenas confirma o quão fundamental são as relações e os vínculos saudáveis nos primeiros anos de vida, uma vez que estes são a base e o modelo que utilizamos no estabelecimento de relações com os outros ao longo da nossa vida. O afeto por parte dos nossos familiares, pessoas com quem estabelecemos os nossos primeiros vínculos, geralmente, os nossos progenitores, é importante para que cresçamos psicologicamente saudáveis e sejamos capazes de nos relacionarmos com os outros à nossa volta.