Reflexão sobre obra: "Paisagem Marítima junto a Les Saintes-Maries-de-la-Mer" de Van Gogh
Paisagem Marítima junto a Les Saintes-Maries-de-la-Mer
Tudo começou em 1888 quando Van Gogh decidiu pintar esta expressiva e vibrante obra representativa do mar, ao ar livre.
Em 2017 foi a minha vez! Ano em que tive a oportunidade de visitar Amsterdão e o Van Gogh Museum, onde se encontra exposto o original desta obra.
Não dei importância, na verdade, nem me lembro de ter visto este quadro (talvez não se tenha sobressaído no meio das centenas de obras de Van Gogh...).
Um dia destes, estava eu sentado na cama a ouvir música quando olhei para a minha estante e lembrei-me que tinha um livro que continha todas as obras de Van Gogh. Trouxe-me logo as memórias de 2017, memórias da melhor viagem que fiz até hoje. Memórias do lugar que, se eu pudesse, viveria para sempre.
Decidi pegar no livro e folheie. Eis que, na página 73, parei. "Paisagem marítima..."
Passei o olhar rápido sobre a obra e reparei logo no sentido de profundidade que Van Gogh gostava bastante de incorporar nas suas obras. Apercebi-me de um total de três navios, um mais próximo do que os outros dois.
Nada de mais, pensei eu. Continuei a folhear.
Eventualmente larguei o livro e fui fazer outra coisa qualquer que na altura achei mais importante.
Dias mais tarde voltei a pegar no livro e, curiosamente, abri exatamente na página 73.
Porém, desta vez fiz algo diferente, passei algum tempo a tentar perceber os pormenores.
Saltou-me logo à vista, talvez por me fazer confusão, aquele "Vincent" escrito a vermelho vibrante como se fosse marca de água.
Foquei-me no que se encontrava no último plano.
Para além dos navios, que agora percebo que poderão estar a voltar da pesca, notei um mar de todas as cores possíveis, talvez o autor quisesse usar todas as cores na paleta para representar a felicidade que esta paisagem, calma, lhe trazia.
Pinceladas da cor verde e azul são as predominantes.
Ao mesmo tempo, parece que o autor estava tão focado em representar o mar com uma cor apenas, que acabou por pintá-lo de uma forma inconstante, como se nunca tivesse visto a verdadeira cor do mar.
Se me perguntassem a cor do mar, rapidamente, responderia azul, porém, se pensarmos, conforme o brilho que lhe bate, este assume uma coloração diferente.
E, com cada pincelada de óleo, se faz sentir o mar cada vez mais perto.
A cor dominante do azul com a manifestação do branco e a intrusão do verde. O Verde, talvez das algas...
A areia, que com os raios de luz do sol, brilha, brilha da cor do ouro e o branco, a espuma, que tem a mesma cor que as nuvens.
Aproximei-me da pintura, reparei que o mesmo vermelho que foi usado para introduzir uma nota vermelha no verde-azulado foi a mesma cor usada na pintura do barco mais próximo. Os barquinhos verdes, vermelhos e azuis, tão bonitos nas suas formas próprias e cores que até parecem pequenas flores.
Esta paisagem marítima que, no início não me captou a atenção, é agora uma das minhas obras favoritas.
A maneira como as cores combinam e se intercetam, como fluem de forma a criar uma grande pintura a óleo. Quando passo o dedo sobre a imagem sinto que sou capaz de sentir todas as pinceladas.
Este quadro faz-me sentir em mim, o que não há em mim...
Para mim, o autor imortalizou Les Saintes-Maries-de-la-Mer, retratou a cor, o brilho, o contraste, a profundidade, os locais históricos e as atividades dos populares.
Quem diria que o Mar Mediterrâneo de Les Saintes-Maries-de-la-Mer poderia ser tão poético.