O primeiro episódio "Memory" da série "The Mind, Explained" conta-nos como funciona a nossa memória e como esta nos pode enganar. Permite-nos compreender como as nossas memórias são formadas, armazenadas no cérebro e posteriormente recuperadas.
Durante o decorrer do episódio é analisada a ciência que está por detrás da criação de memórias. "Porque é que uns momentos nos parecem mais importantes que outros?"
Investigadores afirmam que memórias de eventos traumáticos como o dia 11 de setembro ou a morte da Princesa Diana, estão, de alguma forma, gravados no nosso cérebro. Porém, existem casos como o de Melanie Mignucci que é capaz de se lembrar de detalhes minuciosos como por exemplo, onde estava sentada quando se deu a colisão com as torres gémeas e por onde é que o fumo estava a passar. O que aconteceu foi que a memória de Melanie foi inteiramente reconstruída pela sua própria mente pois a mesma não se encontrava em Manhattan quando se deu o desastre. A neurocientista Elizabeth Phelps, que ensina em Harvard, afirma que cerca de 50% dos detalhes de uma determinada memória podem mudar no prazo de um ano. As nossas memórias não são consideradas registos absolutos pois podem mudar ao longo do tempo.
Outros especialistas no estudo da memória, como Elizabeth Loftus, afirmam também que as memórias funcionam como as páginas da Wikipédia, ou seja, estas podem ser editadas, construídas e reconstruídas por qualquer pessoa ou evento ao longo do tempo.
Este episódio dá-nos, também, a conhecer alguns dos "campeões" da memória.
Na outra ponta do espetro temos Henry Molaison. Este foi submetido a uma cirurgia em 1953 de modo a "curar" a sua epilepsia o que provocou a remoção de algumas das partes da amígdala e do hipocampo. Esta operação resultou num tipo de amnésia grave e um viver no presente momentâneo. Este é incapaz de formar novas memórias. Neurocientistas começaram a estudar o seu caso, levando à pesquisa da memória e ao estudo do hipocampo e seu importante papel nas memórias. Em 2014, o cérebro de Henry foi cortado 2.401 vezes e, para choque, verificou-se que grande parte de seu hipocampo estava intacto, mas a maior parte do complexo amigdalóide no lobo temporal tinha sido removido.
Observando nos cérebros "especiais" o hipocampo e a amígdala, os cientistas começaram, finalmente, a entender a função do hipocampo. A falta de memórias episódicas (memórias de experiências vivenciadas) está relacionada com os danos causados no lobo temporal, acabando por provocar o esquecimento do seu passado e a incapacidade de imaginar o futuro.
Como é que se criam memórias? É através de experiências, momentos marcantes, emoções, lugares e narrativas que em cooperação "trabalham" juntos para formar memórias fortes e o senso de identidade. Neste episódio, é também mencionada a importância da meditação no melhorar do funcionamento da memória. Outras técnicas como, associar coisas a estruturas que já conhecemos, ou mnemónicas, como o uso de imagens ou sons e estratégias como o "palácio da memória", ajudam estes grandes campeões da mesma a terem um melhor desempenho do que um indivíduo "normal". Existe uma grande probabilidade de que todas as nossas memórias, de quando éramos mais novos, terem sido modificadas devido à passagem do tempo e à influência de outros fatores. A memória autobiográfica, que é mencionada no episódio, é baseada em auto construções conceituais de longo prazo, incluindo crenças e o autoconhecimento, juntamente com as tais memórias episódicas.
No episódio concluiu-se que as nossas memórias são sistemas de informação altamente construídos. As memórias são significativas para os humanos de tal modo que também podemos imaginar o nosso próprio futuro.
Mostra-nos também que nossas memórias não são precisas e podem enganar os sistemas de justiça, levando pessoas a confessar crimes que nunca cometeram ou identificar criminosos com base em memórias falsas. Tendo em vista que as memórias sempre foram pensadas como lembranças concretas de certos eventos e que estão diretamente relacionadas à auto construção e identidade, este episódio fará com que todos nós nos questionemos sobre a fidelidade da memória.